Quem responde pelo Elevador da Glória?

Publicado por João em 15-09-25 1:00

Ainda em monotema, porque o caso o merece:
quem responde pelo “acidente” do Elevador da Glória?

Quando se desmonta a cadeia de decisões, surgem três níveis de responsabilidade — operacional, técnica e política.


Nível 1 — Carris / Câmara Municipal de Lisboa

Definem planos de manutenção, validam os ensaios e garantem a segurança do público.
Foram eles que reduziram as inspeções diárias de 24 horas para 30 minutos,
mesmo com o número de passageiros em crescimento constante.

👉 Jornal de Negócios – Vistorias reduzidas


Nível 2 — MNTC (empresa de manutenção)

Executa a manutenção — fixação do cabo, lubrificação e inspeções periódicas.
A última manutenção mensal foi feita dois dias antes do acidente.
Falta esclarecer se a qualidade da informação transmitida pela Carris permitia uma avaliação real do risco.

👉 Expresso – manutenção dois dias antes do acidente


Nível 3 — IMT / ANSF / Governo

Entre as entidades de regulação, instala-se a confusão.
O Governo diz que o IMT não tinha obrigação de fiscalizar;
juristas e técnicos apontam base legal clara para o contrário.
O resultado: um vazio de escrutínio externo em sistemas que transportam milhões de passageiros por ano.

👉 Notícias ao Minuto – disputa de competências


O fator técnico adicional

Surgiu entretanto outro dado preocupante:
o cabo de ligação foi substituído por um modelo com alma em fibra, em vez de aço,
sem alteração correspondente na fixação — um dos possíveis fatores críticos da falha.

👉 SIC Notícias – troca de cabo e risco acrescido

Critério da troca? Desconhecido.
Responsabilidade? A confirmar entre Carris, CML e MNTC.


5. O vazio e as consequências

Em suma:

  • Responsabilidade operacional direta: Carris + MNTC
  • Falha sistémica: IMT / ANSF / Governo (ambiguidade legal)
  • Responsabilidade política: CML (dona da Carris)

As consequências penais e civis competem à PJ, ao Ministério Público e ao relatório final do GPIAAF.
Enquanto isso, Lisboa tenta conceber um novo mecanismo de segurança para o funicular.

👉 Reuters – nova solução em estudo


O caso do Elevador da Glória é mais do que uma tragédia técnica:
é o retrato de uma cadeia de responsabilidades fragmentada,
onde todos supervisionam, mas ninguém responde.

A engenharia falhou — mas a política também.