Ainda em monotema, porque o caso o merece:
quem responde pelo “acidente” do Elevador da Glória?
Quando se desmonta a cadeia de decisões, surgem três níveis de responsabilidade — operacional, técnica e política.
Nível 1 — Carris / Câmara Municipal de Lisboa
Definem planos de manutenção, validam os ensaios e garantem a segurança do público.
Foram eles que reduziram as inspeções diárias de 24 horas para 30 minutos,
mesmo com o número de passageiros em crescimento constante.
👉 Jornal de Negócios – Vistorias reduzidas
Nível 2 — MNTC (empresa de manutenção)
Executa a manutenção — fixação do cabo, lubrificação e inspeções periódicas.
A última manutenção mensal foi feita dois dias antes do acidente.
Falta esclarecer se a qualidade da informação transmitida pela Carris permitia uma avaliação real do risco.
👉 Expresso – manutenção dois dias antes do acidente
Nível 3 — IMT / ANSF / Governo
Entre as entidades de regulação, instala-se a confusão.
O Governo diz que o IMT não tinha obrigação de fiscalizar;
juristas e técnicos apontam base legal clara para o contrário.
O resultado: um vazio de escrutínio externo em sistemas que transportam milhões de passageiros por ano.
👉 Notícias ao Minuto – disputa de competências
O fator técnico adicional
Surgiu entretanto outro dado preocupante:
o cabo de ligação foi substituído por um modelo com alma em fibra, em vez de aço,
sem alteração correspondente na fixação — um dos possíveis fatores críticos da falha.
👉 SIC Notícias – troca de cabo e risco acrescido
Critério da troca? Desconhecido.
Responsabilidade? A confirmar entre Carris, CML e MNTC.
5. O vazio e as consequências
Em suma:
- Responsabilidade operacional direta: Carris + MNTC
- Falha sistémica: IMT / ANSF / Governo (ambiguidade legal)
- Responsabilidade política: CML (dona da Carris)
As consequências penais e civis competem à PJ, ao Ministério Público e ao relatório final do GPIAAF.
Enquanto isso, Lisboa tenta conceber um novo mecanismo de segurança para o funicular.
👉 Reuters – nova solução em estudo
O caso do Elevador da Glória é mais do que uma tragédia técnica:
é o retrato de uma cadeia de responsabilidades fragmentada,
onde todos supervisionam, mas ninguém responde.
A engenharia falhou — mas a política também.