Tudo começou com uma notícia discreta, mas perturbadora: em São Domingos de Benfica, faltava o quadrado do Chega nos boletins de voto.
Sessenta e um votos ficaram selados — e a democracia ficou com mais um problema.
O erro foi detetado e corrigido antes do dia da eleição, mas os votos antecipados já depositados permaneceram inutilizados.
Cabe agora à Assembleia de Apuramento Geral decidir se podem ou não ser contados.
Independentemente da decisão, o caso levanta uma pergunta inevitável:
foi simples falha administrativa — ou algo mais sério sobre os mecanismos de controlo do processo eleitoral?
Há uma ironia difícil de ignorar: o partido que mais lucra com teorias de fraude foi precisamente o atingido por um erro que mina a confiança no sistema.
Mas não é disso que se trata. O essencial agora é transparência — saber como o erro aconteceu, quem verificou os boletins, e que medidas existem para evitar repetições.
Deixo aqui as referências oficiais:
- Notícia da RTP
- Guia da CNE sobre o modo de votar (PDF)
- Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais (DL 21/2021)
Como cidadão, preocupa-me mais o precedente do que o resultado.
Se a Assembleia decidir contá-los, o resultado pode alterar o terceiro lugar em Lisboa.
Se não o fizer, um grupo de eleitores ficará sem representação do seu voto válido.
Nenhum cenário é confortável.
Fui presidente de mesa numa das assembleias de São Domingos de Benfica — por acaso, não tivemos votos desse tipo — e integrei a lista da CDU à freguesia (posição inelegível).
A minha preocupação não é partidária: é cívica.
Erros acontecem.
Mas quando o erro é tão específico e conveniente, o mínimo que a democracia deve aos seus eleitores é uma explicação clara, documentada e pública.